Impasses da Comunicação

Esse texto foi ilustrado com uma cena marcante, a mais recente em minha memória...


Em maio de 2006, o PCC deflagrou a guerra da informação. Bandidos dispararam, aqui e ali, queimaram alguns ônibus, mas, sobretudo dispararam aleatoriamente chamadas telefônicas ameaçadoras. A cidade de São Paulo reagiu como um imenso galinheiro. Rumores correram soltos, desatando reações em cadeia. Sob influencia dos boatos, o comércio fechou as portas, os pais assustados correram para as escolas resgatar as crianças e empresas suspenderam o serviço. De um bairro a outro, a cidade apagou-se ao longo da tarde. A maioria das pessoas ficou em casa assistindo televisão ou ouvindo o rádio á espera de notícias sobre o caso. Pouca gente saiu de casa ou procurou saber o que acontecia de verdade.
Isso é um dos exemplos mais marcantes que nos mostra como acreditamos cegamente na mídia, ao ponto do cancelamento da vida normal. De um modo geral, as pessoas não especulam os fatos, e pensam que podem conhecer o mundo através da mídia. Porém há uma diferença entre o ver e o viver uma realidade.
É possível ver tudo o que acontece no mundo: as guerras, as festas, os lugares, as interações de seres humanos e animais... E a partir do que se vê, cada um interpreta do seu jeito, colocando a sua verdade. Por isso que a mesma notícia em meios de comunicação distintos tem abordagens também diferentes.
Estar diante de uma realidade, presenciá-la como ela é, pode-se compreender e conhecer melhor. Isso não significa que, no caso dos meios de comunicação, não mostrem a verdade. Mais é necessário fazer uma avaliação de tudo que se vê ou lê. Não podemos se inocentes e acreditar fielmente na mídia.
Hoje temos um excesso de informação, infelizmente não dá para “checar” se tudo o que se lê está de acordo com a veracidade. Por isso, também não devemos dispensar a mídia.
Hoje em dia, alunos de jornalismo, além de se preocupar em comunicar a verdade, devem saber o efeito da comunicação que certo fato pode causar. São Paulo já conheceu os efeitos psicológicos da “indústria do medo”, e não queremos que isso ocorra novamente. E somente conhecendo a História da Comunicação saberemos os efeitos que esta causa. Por exemplo, o porquê Londres não parou, como São Paulo, durante os bombardeios alemães na Segunda Guerra Mundial e os mercados de Bagdá funcionam em meio aos estrondos das bombas norte-americanas. De quem é a culpa? Será que a mídia não tem tanta influência nesses locais? Não se sabe de quem é a culpa, porém sabemos que, em Londres ou Bagdá, as pessoas julgam melhor os fatos ou então, que seria improvável, não tem amor a suas vidas e acham emocionante andar de baixo de um bombardeio. Enfim, não se pode viver em função da mídia, porque assim não se vive: se assiste.

Mito, Razão e Jornalismo

Por Camila Carvalho e Pedro Augusto Proença

Desde os tempos primórdios a humanidade tem sua realidade permeada por mitos. Por exemplo, na Grécia antiga havia o do minotauro, na época das Grandes Navegações o oceano Atlântico era tido como o “mar tenebroso” no qual habitavam toda sorte de criaturas mágicas e perigosas e alguns que sobreviveram a Idade Média como a crença em bruxa e demônios.

“Há a mitologia que relaciona você com sua própria natureza e com o mundo natural, de que você é parte. E há a mitologia estritamente sociológica, que liga você a uma sociedade particular” (Campbell, 1990:24).

Essa sentença ilustra a amplitude das espécies mitológicas e como elas interferem no cotidiano dos seres humanos. Se por um lado representa valores universais, por outro, expõe as peculiaridades de uma sociedade. A concepção de herói, por exemplo, em todas as culturas ele apresenta bons valores como a nobreza de espírito, a coragem e o altruísmo. Porém, todos eles possuem características próprias da cultura da qual provém.
Os mitos possuem uma razão de ser, não estão no mundo por acaso. A mitologia pode ter uma função de alentar, dar esperanças e expandir horizontes dos indivíduos de modo que não fiquem totalmente presos a matéria. Para a alma só o real não basta, é preciso transcendê-lo. A própria idéia de herói tem tal função, ao ver encarnado tanta honradez e sacrifício em uma só pessoa, o ser humano passa a ser mais confiante e ter mais força para enfrentar uma situação. Outro caso é o da religião com seus mártires e, no caso dos católicos, os santos. Para ilustrar, pode-se tomar um personagem que se adapte simultaneamente aos dois casos: Joana D’Arc, heroína francesa que restituiu a moral de seu país na Guerra dos Cem anos, foi morta pela igreja e apenas nesse século canonizada.A razão, enquanto idéia de pensamento, métodos e experiências, criticam o mito enquanto “crendice” ou dogma. Nos portões da Idade Moderna, Galileu, Copérnico e outros ajudaram a fazer cair por terra a teoria geocêntrica e provaram a heliocêntrica- segundo a qual a terra gira em torno do sol, este é seu centro-.
Alguns cientistas mistificaram a razão, ela ganhou um ar de infalibilidade e uma arrogância de quem se vê acima do bem e do mal. Evidentemente que a concepção racional é válida e contribuiu muito para a humanidade. No entanto, ela não é “a” forma de conceber o mundo, mas apenas uma das formas. Há a possibilidade de equilibrar mito e razão e usá-los cada qual em seu contexto. Mito e razão estão próximos, o mito tem uma razão de existir e a razão, um afã de se mitificar.A transmissão do mito sempre se deu pela comunicação. Seja nos tempos medievais nos quais o hostil mundo dos camponeses fez com que criassem riquíssima tradição oral de contos nos quais era exposto seu universo iníquo retratando árduo trabalho, mortes e lascívia, aos mitos de formação dos estados nacionais no século XIX – reforçados por símbolos que remetem a um passado glorioso e a um futuro promissor como hinos e bandeiras. O que tais mitos aparentemente dissociados têm em comum? Ora, ambos são passados de geração em geração. Contudo, os seres humanos têm o hábito de aumentar certas histórias. Um conto do século IX será diferente no século XI e talvez irreconhecível no XIII. A humanidade cria, inventa, reinventa, apaga, acrescenta, valoriza, desvaloriza. O mesmo ocorre com as tradições que fundamentam uma identidade nacional. Há muitos fatos que são deliberadamente olvidados e outros que passam a ter uma dimensão gigantesca. Por exemplo, o hino nacional português retoma a grandeza do pioneirismo luso nas navegações e foi composto em um momento que o orgulho nacional lusitano foi humilhado por um ultimato inglês:


Heróis do mar,
nobre povo,
Nação valente e imortal
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória,
Ó Pátria, sente-se a voz
Dos teus egrégios avós
Que há-de guiar-te à vitória!
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar


Era impossível enfrentar os ingleses, mas era preciso resgatar e pintar com cores vivas e acordes vibrantes as glórias do império. O jornalismo é mais forte na formação de mitos que a tradição oral e ajudou muito na criação dos estados nacionais do XIX. Por ter um alcance muito maior, a imprensa mitifica personalidades e regimes. O jornal Marca da Espanha ajudou a supervalorizar o governo de Franco e criar idéia de “hispanidad” ou o personagem Che Guevara, que foi posto em um pedestal, virou um símbolo de luta dos estudantes de 1968.Sua transcendência e carisma, em grande parte, se deve a uma foto no qual o argentino aparece com o olhar perdido no horizonte.Enfim, o mito está tão presente na razão e no jornalismo quanto estes naquele. É um ciclo que ajuda o homem a constriur seu imaginário.

BIBLIOGRAFIA

CAMPBELL, Joseph. O Poder do Mito - 1990.

De repente Jornalista!!! ( Autoperfil)


De vestibulanda a universitária repentinamente. Camila Costa Carvalho, 17 anos,estava no cursinho, estudando arduamente para mais um ano de simulados, bateria de exercícios e provas de vestibular. Foi quando recebeu a notícia que passou em uma faculdade, uma das mais tradicionais no curso de jornalismo.
Desde pequena é amante do jornalismo. Sempre assistia o “Jornal Nacional” junto ao seu pai, era curiosa, perguntava de tudo e de todos, gostava das explicações em detalhes.
Na sua pré-adolescência, sofria da síndrome do pânico. Não dormia durante a noite. Foi quando descobriu os livros, que ajudaram muito no tratamento. Passava noites inteiras lendo, e apesar do sono do dia seguinte, seu gosto pela leitura tornou-se imensurável.
Não quis psicólogo, floral ou coisa assim. Curou-se com a leitura. E depois que a síndrome passou, o habito da leitura perdurou. E da leitura desenvolveu-se a escrita. A redação era algo que a satisfazia.
Escrita nunca foi uma coisa fácil para Camila. Sempre trabalhou muito em cima disto, a dificuldade não foi motivo para desistir. Até hoje está aprendendo e desenvolvendo.
O gosto pelo jornalismo confirmou-se quando ela e mais uns amigos decidiram criar uma revista para o colégio onde estudavam. Esta revista foi “publicada” durante três anos e composta por seis edições semestrais. Foi um trabalho árduo e ao mesmo tempo prazeroso.
Sempre gostou das artes e de conviver com o público. Estudou música, dança e teatro. Gostava das apresentações e de se comunicar, seja com a oralidade como no teatro ou com o corpo como na dança, com as pessoas.
E hoje estudante de jornalismo, carreira a qual escolheu sem hesitar, está buscando um grande futuro neste mundo de tanta competitividade. O que mais almeja é poder juntar o prazer de realizar uma atividade que ela gosta com o lado financeiro. Mesmo que a profissão seja estressante como dizem, ela não saberia fazer outra coisa com tamanho júbilo.